quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A casa

Naquela casa pouco havia, além de paredes brancas e desejo.
O quarto começou a ser composto por apenas um colchão, uma estante de ferro e carinho.
Naquela casa pouco havia, além de paredes brancas e amor.
O outro quarto começou a tomar forma e sons.
Naquela casa pouco havia, além de paredes brancas e uma rede.
A tv era apoiada em sua própria caixa, mas a toalha de renda dava graça.
Naquela casa pouco havia, além de paredes brancas e o cheiro do tempero na hora do almoço,
Que era servido na sala em uma modéstia mesa e uma tábua de passar servia de aparador para as panelas.
Naquela casa pouco havia, além de paredes brancas e amigos.
Que iam para o churrasco, para as risadas...
A casa foi se moldando e virando um lar.
No quarto já tinha cama, e depois de um dia solitário acordava sobressaltada, mas estava apenas sendo acolhida e aconchegada, ás vezes seguia uma declaração de amor eterno.
A casa que não tinha quadros e nem enfeites ganhou uma samambaia, e um aquário com peixes laranja.
Naquela casa, que pouco havia, até a parede branca foi rabiscada.
Naquela casa, que pouco havia foram queimados os sonhos.
Naquela casa que pouco havia e tinha se tornado um lar desmanchou-se, desmoronou.
Naquela casa que pouco havia, hoje não há.
Era uma linda casa, um lar promissor, mas hoje além de queimado os sonhos, foram apagadas as esperanças,
Foi apontado o desejo,
Foi mal-dito o amor,
Foi esquecida a rede,
O tempero ficou insoso.
Naquela casa que pouco havia e hoje não há,
Foram-se os amigos,
Calaram-se as declarações,
Mas ela ainda acorda sobressaltada na madrugada, com a sensação de aconchego,
Logo que percebe o engano adormece repassando o filme do lar, que nada faltava.

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